Des-con-for-to. Desconforto é a primeira palavra que vem a minha mente para explicar por que criei esse blog. É a faísca de uma chama.
É um desconforto de ver tanta coisa errada, de achar que o mundo não é o lugar que eu gostaria que fosse. É também, de não achar o meu lugar. É um desconforto de estar vivo, de ver tanta dor no outro e de sentir tanta dor; é de pensar tanto e de se achar tão impotente em relação a tudo.
É um desconforto de escrever, mas não na escrita, não no ato da palavra em si. O desconforto no ato da escrita é o de não sentir o sentido do texto vivo. É um desconforto do texto, de vê-lo preso, dentro de um arquivo ou dentro de uma gaveta.
É entender o desconforto de ser preso. E esse desconforto de sentir-se preso, prisioneiro eu entendo. Acho que de alguma maneira todos nós entendemos.
O peso que carregamos
O ser humano tem esse conjunto de valores que foram forjados ao longo dos anos, juntamente com uma quantidade de medos e preconceitos. Vamos adquirindo e guardando tudo dentro de uma mochila.
À medida que os anos passam, colocamos mais medos, preconceitos e valores dentro desta mochila. Até que ela começa a pesar. Porém, continuamos a enche-la e acreditamos que as coisas que guardamos são verdades imutáveis.
Tantas verdades que pesam. E daí vem o desconforto, mas continuamos. Continuamos até que o peso é tanto que não conseguimos mais andar. Ao invés de largamos o peso e continuarmos, a maioria de nós apenas para.
Interrompemos a nossa jornada e ficamos a beira da estrada de nossas vidas, estagnados. De repente, estamos presos aos nossos valores, aos nossos medos e preconceitos. As nossas verdades guardadas em uma mochila se transformam em nossa própria prisão.
Uma prisão que nos impede de ver um mundo diferente, de apreciá-lo. De ver sentido nas coisas novamente. Já não é possível ver a maravilha do mundo, sentir o vento, os cheiros, odores. Saborear a fruta fresca. De dar risadas com nossos amigos.
Mas há um temor maior do que aqueles que guardamos em nossa mochila, é o medo de abri-la e soltar nossos medos, rever nossos preconceitos e valores.
Voltando a ser leve
Para nos vermos livre disso tudo precisamos em algum momento abrir essa mochila. Precisamos rever essas verdades, precisamos esvaziar-se das coisas que já não são mais importantes.
Cada um precisa encontrar o seu próprio caminho para tornar-se leve e livre novamente. O meu ato de abrir essa mochila começa pelo ato da escrita.
Escrever pode ser um processo doloroso, temeroso, agonizante. No entanto, para mim, é também essencial e libertador. É por meio dele que busco essa liberdade. É o meu caminho de encarar esses valores, esses medos e preconceitos que estão dentro de mim. Preciso esvaziar-me de tudo isso para continuar.
Mas não se trata de um busca para curar-me desse desconforto. É uma busca sim, mas para entendê-lo para lhe dar sentido. É uma busca para dar sentido as coisas.
Simplesmente, uma busca pelo sentido.
Dos textos deste blog
Como trilhar esse caminho, como construir os textos ou selecioná-los para que tenham vida? Não sei. Nem sei se é só de desconforto e sentido, talvez se trate de esperança. A única certeza é que tenho muitas dúvidas e muitas coisas que preciso dar sentido a elas.
Por isso não me prendo a certezas. E sinto-me confiante na dúvida ao lembrar das palavras de Caio Fernando Abreu:
“Eu simplesmente não sabia ao certo o que queria dizer ou contar. Para saber, foi preciso aceitar escrevê-lo, meio às cegas, correndo todos os riscos”
Para buscar o sentido, preciso também correr alguns riscos, preciso abrir essa mochila, compartilhar essas ideias e esperar que elas encontrem conforto ou desconforto na leitura de alguém.
Talvez, tenha sido o desconforto que me trouxe aqui, mas espero que seja a esperança que me faça continuar. A esperança de um dia olhar para o mundo e ver as coisas fazerem sentido. Poder caminhar pelas ruas e não sentir culpado porque a criança que pede dinheiro não está mais lá. Esta na escola ou brincando com outras crianças.
Não tenho a pretensão de conseguir mudar o mundo sozinho, nem mesmo acho que teria alguma ideia por onde começar, mas tenho a esperança que o mundo mude e espero encontrar um meio para contribuir com essa mudança.
Talvez seja por meio da escrita. Afinal, acredito nessa força que o texto tem, desse poder mágico, que se inicia quando alguém escreve, mas só se consolida quando alguém lê.
Foi com o desconforto que comecei a escrever esse texto para explicar por que criei esse blog, mas isso foi apenas uma faísca que talvez ganhe força e cresça. E é com a esperança de ver essa faísca se transformar em chama viva que finalizo.