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Notas sobre uma coletânea de Oscar Wilde

Oscar Wilde é um grande escritor mais conhecido pela sua obra prima, O retrato de Dorian Gray. Além desse romance, Wilde também escreveu peças, novelas e poemas. Alguns de seus trabalhos foram adaptados para o cinema e tem influenciado muitos outros artistas.

Chá das cinco com Aristóteles e outros artigos é uma coletânea de textos publicados na imprensa em um período anterior aos grandes trabalhos de Wilde. O livro foi publicado em 1988, pela editora Nova Aguilar e teve os textos selecionados e traduzidos por Marcello Rollemberg.

Nesta coletânea, Wilde nos transporta de volta para o século XIX e nos convida a participar de uma conversa sobre literatura, costumes e arte. É com a intimidade de estarmos entre amigos, que o autor mostra sua erudição e conhecimento sobre a poesia inglesa, o teatro e costumes. Os textos também são carregados de ideia preconceituosas da época se compararmos aos valores da sociedade atual. Nesse aspecto, não é raro perceber nos textos de Wilde um divisão de classes, onde intelectuais, artistas, poetas e nobres estão em um patamar acima das outras pessoas. Vale lembrar que são textos ainda em processo de amadurecimento, mas já é perceptível as bases sólidas de seu estilo como a elegância na escrita, a ironia e humor.

Uma das características de uma boa resenha crítica é quando você fica com vontade de ler ou reler aquele trabalho. Essa característica esta presente nas divertidas resenhas de Jantares e Pratos e Um manual para o casamento. Trata-se de textos sobre dois dois livros não literários, mas essa característica de instigar a leitura também esta presente em trabalhos mais sérios como Algumas anotações literárias e Mais algumas anotações literárias, ambos sobre W. B. Yeats. O primeiro em relação ao livro sobre histórias do folclore irlandês, Fairy and Folk Tales of the Irish Peasantry onde além de nos apresentar a obra, Wilde tece elogios ao autor: “É fascinante ler uma compilação de um genuíno trabalho criativo e Mr. Yeats teve a sensibilidade de encontrar as melhores e mais belas produções do folclore irlandês”. Em relação ao The Wanderings of Oisin and Other Poems, primeiro livro poemas de Yeats, Oscar diz se tratar de “obra de pena inteligente” e embora faça algumas ressalvas termina o texto fazendo uma previsão sobre os futuros trabalhos do poeta.

Ele também reconhece o trabalho de Dostoiévski em Humilhados e ofendidos, mas seus elogios não são para qualquer um. Wilde conhece o objeto de sua análise. É perceptível nessa coletânea, o vasto conhecimento da literatura e da língua e quando não encontra a qualidade no texto, aqueles analisados sobre sua crítica sofrem as consequências.

Em Balzac em inglês, Wilde faz uma apresentação sobre a obra e os personagens de Balzac demonstrando conhecer a obra do escritor francês. Ao analisar os textos traduzidos, demonstra não só o conhecimento da literatura, mas também o domínio sobre a língua francesa e inglesa. Embora, aprecie a escolha dos textos e a iniciativa da tradução não perdoa o resultado final. Com uma elegância própria diz que “a escolha das histórias é excelente, mas as traduções são muito desiguais, e algumas delas são positivamente ruins”. É possível perceber a indignação com os tradutores, deixando muito claro que para ele, aqueles que traduziram Balzac não sabiam francês. Pode se parecer um pouco imaturo, mas é esse o Wilde ousado e feroz que veremos em sua fase madura.

Em Grandes escritores por pequenos homens, uma resenha crítica sobre o primeiro volume de um série de monografias literárias editadas por Mr. Walter Scott intitulada Grandes escritores, mais uma vez fica evidente, o vasto conhecimento de Wilde sobre literatura. Desta vez ele trata da poesia, não só inglesa, mas também americana. Após considerações sobre o trabalho, o veredicto é conclusivo: “Mr Walter Scott não pode ser parabenizado pelo sucesso de sua empreitada.. A única coisa de fato admirável .. é a bibliografia compilada pro Mr. Anderson”.

Em Chá das cinco com Aristóteles o texto que dá título a coletânea, ele analisa um livro sobre a arte da conversa. De maneira divertida, destaca os pontos interessantes do texto e deixa claro os negativos. O texto de Wilde é construindo com muito humor, ironia e sarcasmo. Nem por isso deixa apontar falhas no livro, principalmente com um estilo de escrita, mas não condena a obra. Em suas palavras: ”Ainda assim, o livro pode ser facilmente recomendado a todos aqueles que se proponham a substituir o vício da verborragia pela estupidez do silêncio”

Os artigos foram muito bem escolhidos para essa coleção. A coletânea é um excelente ponto de partida aos trabalhos mais maduros de Oscar Wilde. Com o seu estilo, eles nos mostra como uma crítica literária não precisa ser chata e cansativa. É perceptível o cuidado que o escritor tem com a apresentação do texto para o público, sem diminuir a seriedade de uma crítica ele nos diverte com seu estilo vivo, sua erudição e o seu sagaz humor.

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