Quando começamos aquela conversa eu não sabia que iríamos ao Morro do Canal, mas fui. A conversa foi mais ou menos assim:
J: Tô combinando nossa caminhada pra segunda dia 20. J: Beleza? J: É escalada na real? Eu: Escalada? Eu: Nunca escalei J: Escalarás. Eu: Etcha J: É pra iniciantes. Também não tenho experiência nenhuma.
Depois de um tempo…
J: Tu tem seguro de vida?
Estava decidido que eu escalaria, mas não perguntei nem quando nem onde. Sabia que era próximo a Curitiba e isso me bastou.
No dia anterior ao da escalada, a previsão era de chuva para o dia seguinte em Curitiba, mas dizem que sempre chove por lá.
Logo depois de olhar a previsão do tempo, quis saber mais sobre o local para onde estava indo. Eu sempre gosto de saber para onde estou indo, planejar o que levar e como ir, mas para esse passeio eu preferia ir um pouco no escuro, mas os instintos falaram mais alto e acabei por questionar a J. para saber onde iríamos.
Destino: Morro do Canal
O nosso destino era o Morro do Canal, cerca de 35 km de Curitiba, no município de Piraquara. O morro tem uma altitude de 1.359 metros. O percurso é considerado fácil e leva-se em media 1 hora e 30 minutos.
Segundo o Rumos, o Morro do Canal é a primeira montanha da Serra do Marumbi da qual faz parte o Pico do Marumbi e o Morro do Vigia entre outros.
Partindo para o nosso destino
A ideia era sairmos por volta dàs 8h da rodoviária, chegarmos por volta das 9h e realizar o percurso em duas horas. Embora a previsão fosse de chuva, só começaria realmente a chover a partir do meio-dia, então se não atrasássemos, tudo daria certo.
Saímos as 8:05. Cinco minutos atrasados se você for britânico, para nós estávamos no horário.
Conhecia apenas a J., que era a minha amiga dos tempos da faculdade, os demais eu conheci pouco antes de entrar no carro. Descobri que os outros integrantes da nossa aventura já tinham experiências anteriores com escalada, menos a J. e eu. Tudo bem, sempre tem a primeira vez, só esperava que a nossa não fosse dolorida.
Lembro que ao entrar no carro, escutei uma trilha sonora que me trouxe a sensação de que estava no lugar certo. Não lembro da música, apenas da sensação. Talvez minha memória afetiva seja mais forte que minha memória musical.
O plano era irmos em dois carros. Quer dizer, irmos em um carro e dividir o táxi do outro. Cancelamos o táxi, pois uma das pessoas que iria conosco desistiu.
A viagem foi rápida até chegarmos próximo ao pedágio e fazer o retorno. Cerca de 20 minutos. Acreditávamos que já estávamos lá, mas daí levou mais uns 25 minutos que nos pareceram duas horas, devido à estrada de chão de terra vermelha, os campos, as voltas, a terra vermelha, mais campo e mais voltas.
Enquanto não chegávamos só imaginávamos se tivéssemos em dois carros. O que imaginávamos mesmo era a cara do taxista andando tudo aquilo. Acho que ele nos deixaria próximo ao pedágio e voltaria para Curitiba.
Esse pensamento coletivo gerou uma afinidade no grupo. E penso que nada melhor do que algo em comum para nos integrarmos.
Já riamos bastante e nem tínhamos chegado ao local.
Escalando o Morro do Canal
O pé do morro ou o começo da trilha fica no Sítio Rocha ou apenas chácara do Seu Zezinho. E foi de lá que começamos.
Iniciamos a escalada (ou trilha) com cuidado. Aliás, comecei com muito cuidado. Tinha chovido na noite anterior, o chão estava molhado e o meu calçado parecia que ia escorregar a qualquer momento. Lamentei não ter um calçado mais adequado, mas segui em frente.
O início é muito fácil. Além de não ter grandes desafios, o terreno é composto por trilha de terra e com uma vegetação aberta.
O tempo não estava quente e tampouco frio, o que ajudava a manter a temperatura do corpo e facilitar a subida. O problema era que estava nublado e com forte serração. Péssimo para ter uma vista completa.
Uma caverna no meio do caminho
Em determinado momento, escolhemos o caminho da esquerda ao invés do da direita e voilá, nos perdemos. Sim, conseguimos nos perder em uma trilha muito simples, mas muito simples. Assim que a mata começou a ficar mais fechada, percebemos o erro. Não fazia sentido uma mata tão fechado em uma trilha tão comum.
Enquanto algumas pessoas voltavam, tentei subir algumas pedras, logo identifiquei uma formação de pedras. Quando gritava para o grupo, percebi que meus companheiros já estavam se aproximando por um caminho muito mais fácil. Eu ri por ter escolhido o caminho errado.
A formação das pedras com luzes que formam uma espécie de caverna era muito bonita. Paramos e registramos o momento. Pensei que, talvez, se tivéssemos seguido a trilha, não teríamos percebido aquele lugar.
Depois das fotos, seguimos e foi quando nos deparamos com os primeiros ganchos e depois correntes.
Adiante e arriba
A subida é, como dizem em outros locais, de nível médio, com o cuidado adequado não há perigo algum; com a falta de prudência é muito fácil se machucar.
Foi um pouco depois da metade do caminho que senti que enfrentei a minha maior dificuldade: o gancho para eu pegar estava um pouco distante e me deixava sem ter segurança para pegar nada. Acho que foi nesse ponto que a Mari do Finestrino (Finestrino Aventura: Morro do Canal) parou.
Eu quase desisti também, voltei um pouco e fui por um lado oposto aos demais. É como acontece na vida, nem sempre o caminho trilhado por outros lhe serve. Preferi mudar do que acabar com o passeio dos outros e ter problemas físicos.
Tirando esse momento, seguimos a diante, sem problemas. Não corremos e sempre parávamos um pouco para apreciar a paisagem ou tentar. O tempo estava completamente coberto. Em um dia de sol a vista deve ser magnifica.
Chegamos ao tempos topo em cerca de uns 40 minutos, muito antes do que prevíamos. Mais fotos e a melhor parte: comida. A vista era bonita, mas devido ao tempo fechado não conseguimos fotos tão bonitas quanto o lugar pode oferecer.
Comemos, conversamos e assistíamos a chegada de outros grupos. Uma turma de crianças entre os seu 8 e 11 anos, talvez menos, também chegavam. Meninos e meninas com o peito estufado, mostrando todo o poder de ter ‘conquistado’ a montanha.
Depois de mais fotos e conversas, resolvemos descer.
Descendo
A descida para mim foi muito mais tranquila, quase não usei os ganchos ou as correntes, descia alguns pontos em pé, de lado mesmo, para me segurar usava os troncos das árvores. Achei que para mim isso funcionava melhor.
Parávamos também. Dessa vez, para apreciar a vista. O tempo começara a abrir e entendemos por que esse é um ponto a ser visitado. Consegue-se ter uma boa visão de um pedacinho da mata atlântica.
Completamos o trajeto em 1 hora e 40 minutos e nada de chuva.
Alguém já escreveu que o problema de fazer uma escalada é que esse troço vicia.
Lembrei disso quando, ao pé da montanha, manifestei a vontade de conhecer os outros morros da Serra do Marumbi, mas essa fica para próxima.
Recomendações de leitura:
- A Mari do Finestrino relata sua experiência com o Morro do Canal com boas dicas e um ótimo humor.
- Para dicas de como chegar recomendo o texto do Márcio Trindade, do Trilhas e Aventuras.
- Para informações técnicas sobre altitude, formação e localização sugiro o site da Rumos