Já faz algum tempo que me interesso pelo minimalismo e embora, eu conhecesse o blog The Minimalists, de Joshua Fields Millburn & Ryan Nicodemus, eu desconhecia o documentário que eles tinha feito a respeito. No blog, Josh e Ryan compartilham suas jornadas no mundo no minimalismo e oferecem dicas em como incluir essa maneira de ver a vida. O documentário a jornada é outra.
O filme acompanha Joshua e Ryan no lançamento de um de seus livros. E nessa viagem somos levados a uma outra jornada, onde os dois e outras pessoas contam como estão vivendo com menos. Por meio dessas histórias vamos entendendo um pouco do que é o minimalismo. A perspectiva do documentário é deles e embora tenha inspire muitas reflexões, ainda carece de um pouco de crítica sobre o que é o minimalismo.
A história por trás do minimalismo
A história das pessoas que aparecem na tela tem algo em comum. Alguém é bem sucedido financeiramente, mas vive desanimado e triste, sente a vida sufocada, sem propósito. Essa pessoa tem vontade de mudar de emprego, mas não pode pois tem muitas contas para pagar. Ao refletir, ela percebe que trabalha basicamente para pagar as contas. Contas criadas para aliviar a tensão em relação ao trabalho. E um dia percebem que podem mudar suas vidas e viver com menos.
De um modo geral o minimalismo trata de ideias para de termos uma vida mais simples, com apenas aquilo que precisamos, consumindo apenas o necessário. Não se trata de ser contra ao consumismo, mas sim de ter um consumo mais consciente. De ser mais feliz com o que se tem.
Dinheiro x felicidade
Poder ser uma outra maneira de dizer que dinheiro não é importante, que dinheiro não traz felicidade, mas neste caso é. A questão dinheiro x felicidade é levantada. A grosso modo os ricos dizem que dinheiro não traz felicidade, os pobres dizem que sim.
A psicologia social vem estudando a relação de dinheiro e felicidade e até o momento e aponta que tanto pobres quanto ricos estão certos. Na sociedade atual (ou pelo menos na americana) é necessário ter uma certa quantia para vivermos satisfeitos, para garantirmos o mínimo, mas acima de determinado valor não há diferença.
Em números isso quer dizer que se uma pessoa ganha 500 mil reais por mês e passa a ganhar 2 milhões, ela não ficará mais feliz ou infeliz por causa do dinheiro.
O documentário trata da perspectiva das pessoas que já tem o mínimo, ou melhor que já tem mais do que o mínimo. E isso traz problemas para elas. Um dos exemplos apresentados, e o que acontece com muitas pessoas que buscam o minimalismo, é que elas passam a consumir mais para tentar alcançar a felicidade. Muitas chegam a ter um comportamento parecido com viciados.
Os perigos do consumismo
Essas pessoas não podem ver o lançamento de um novo celular, de uma marca x, que antes que as vendas comecem já encomendaram o produto. E no ano que vem, o processo será o mesmo. Se a pessoa for viciada em roupas, a história sem complica pois na industria da moda que era conhecida por ter quatro lançamentos por ano, agora tem 52.
“Eles querem que você acredite que você precisa dessas coisas”
O minimalismo tenta romper com esse círculo refletindo no que se compra e por que se compra determinando produto ou serviço. É um consumo mais consciente, de comprar o que realmente é necessário ou de algo que realmente vá agregar valor para a sua vida.
E essa maneira é diferente do que vendido como a ideia do sonho americano. Nessa perspectiva, os Estados Unidos é visto com a terra da oportunidade. Nela, o americano acredita que com trabalhando duro ele irá prosperar. E prosperar significa ter uma casa grande, um carro e um monte de coisas. Quanto mais melhor.
A aquisição de uma casa é um bom exemplo. Alguém procura uma casa no valor de U$ 500.000 pois esse é o valor disponível para compra-lá. Porém, esse valor não existe o que existe é uma hipoteca nesse valor, que será paga ao passar dos anos.
O minimalismo questiona o porquê disso. Por que adquirir uma divida ao comprar uma casa enorme? Ao questionar essa compra, o documentário aborda a questão de casas grandes e novas soluções de casas menores, nas quais os espaços são melhores aproveitados. É possível viver com menos e ser feliz.
A felicidade é um ponto recorrente no documentário. Em nosso tempo, acreditamos que podemos fazer o que quisermos e podemos. O problema é em muitos casos sacrificamos o que é mais importante em nossas vidas. O minimalismo seria um caminho para repensarmos se os sacrifícios que fazemos em nome do trabalho e do consumo valem a pena, se isso nos traz felicidade.
Experiência pessoal
Com tantos insights, lembrei de uma viagem na qual percorri o Caminho de Santiago. Os valores levantados ao longo do documentário eram questões que tive na prática. Digamos que vivi o minimalismo por 30 dias.
O dinheiro era mínimo, mas tinha comida, não tinha smartphone, pouquíssima roupas, apenas o essencial. Eu não sacrificava nada, apenas vivia com o que tinha e isso foi gratificante, pois com o passar dos dias eu focava cada vez mais no que era importante que naquele momento era: o caminho, as pessoas e a escrita.
Minimalismo não é uma filosofia, mas para mim serviu e acabou se tornando parte da minha filosofia de vida, na qual eu desconhecia o nome. Eu gosto das ideias por trás do minimalismo, mas há um ponto que me me incomoda e esperava que o documentário fosse mais crítico em relação a isso: o minimalismo nem sempre é uma opção.
Na minha pequena experiência eu tinha um objetivo (o caminho), um propósito (escrever) e um cuidado com o outro (as pessoas). Nós nos ajudávamos para que todos tivessem o melhor caminho possível. Esse cuidado com o outro, com um pensamento menos individualista é o que me incomoda na abordagem com que o minimalismo foi tratado na narrativa.
Para finalizar…
A abordagem do filme é da perspectiva da classe média americana frustada que tem o luxo de poder fazer essas escolhas. Não tiro mérito do minimalismo, mas o documentário poderia refletir qual é o lugar do minimalismo diante da pobreza do mundo.
Em outras palavras, o minimalismo é um bom caminho para refletir sobre o que consumismo. Porém, é uma abordagem individualista a qual trata o consumo consciente para aqueles que tem dinheiro e não os reais problemas do consumismo.
Se você busca propósito em sua vida? Quer mais felicidade, recomendo assistir ao documentário. No mínimo, terá boas inspirações para pensar em sua própria vida e buscar e construir o seu caminho. O documentário tem o mérito de apresentar questionamentos interessantes sobre como consumimos e sobre o que nos feliz, ou o que realmente para em nossas vidas para sermos felizes.