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Das diabretes de uma mente levada

criança feliz correndo

Paro diante da tela, na esperança de escrever aquele texto que preciso entregar, mas as palavras não surgem. Surgem outras, outros mundos, outras ideias. Um comboio de imagens cruzando-se com outros em uma ferrovia movimentada e brilhante.

Não quero bloquear as ideias, então abro um novo documento para registrá-las, mas eis que as ideias para desenvolver aquele primeiro texto surgem novamente.

Às vezes, não entendo o que acontece com a minha mente. É como se houvesse duas mentes, dois eus. Um deles é o rebelde, o do contra. Ele surge sempre que começo a trabalhar em algo, levando me a fazer uma outra coisa, lembrando de outras atividades, como um macaco que pula de galho em galho, fica alternando entre uma tarefa e outra. O outro, é o lado da disciplina. Eu não quero brigar comigo, com esse meu lado rebelde, então eu o deixo livre.

Há dias em que esse meu lado rebelde esta realmente inquieto. Começo uma atividade e antes de terminá-la, encontro-me fazendo outra coisa. Uma vontade de fazer tudo, sem a paciência necessária para me dedicar. Pego o computador para escrever e não vem as palavras, então desisto e vou assistir algum filme, mas o incomodo continua. Não consigo assistir ao filme também, então pego um livro. E fico ali, lendo até o segundo parágrafo, quando paro para pegar uma folha de papel e escrever uma ideia que surgia enquanto eu lia.

Já tentei aquietar a mente com meditação, com exercícios, com remédios, mas depois de um tempo ela me engana e volta a dispersar-se a bel-prazer. Também, já tentei técnicas de produtividade, mas essa mente rebelde é esperta. Cada vez que minha mente disciplinada se esforça para eu entrar na linha, vem a rebelde e faz uma bagunça. Quando então consigo dominá-la, já é tarde e estou cansado demais para fazer o que eu teria que fazer. Pergunto-me que espécie de ser humano que sou que não consigo ter controle sobre minha mente rebelde, mas sou assim. Já nem busco uma explicação, quero apenas que ela se aquiete.

Nos raros momentos, quando essa mente rebelde se acalma, como agora, enquanto escrevo essas linhas, consigo, então, enxergar claramente esses meus dois eus, esses meus dois lados. Concentro-me para ver e entender esse lado mais rebelde para tentar domá-lo, mas então, percebo que não é rebeldia.

Essa minha mente rebelde é apenas uma criança, uma criança que quer brincar, descobrir o novo, explorar o mundo. É ela que artimanha os meus sonhos, que me inspira em meus projetos. Ela não ter culpa de ser assim, energética e com uma sede por novidades. Já o meu lado disciplinado não é tão disciplinado assim, esta mais para o um velho resmungão, que sempre reclama da bagunça da criança. Ele gasta tanta energia resmungando, tentando controlar, reprimir, sempre correndo atrás dessa criança travessa, que não percebe o jogo que esta jogando. E todo esse esforço do velho contra o novo é em vão, porque para a criança não se trata de controle ou de repressão. É apenas mais uma brincadeira.

 

 

Só me dou conta da brincadeira, nesses raros momentos em que a criança casada, repousa nessa minha mente e a velha aproveita para também descansar. Nesse momento, entendo que para a criança tudo não passa de uma brincadeira de pegar. Entendo que com tanta ânsia de fazer as coisas de controlar, não deixo energia para deixa-la brincar e fluir. O meu lado velho também entende isso, sente-se culpado e quer acordá-la, mas vendo-a tão cansada, se comove e desiste de tentar domina-la. O velho pega a criança em seus braços e embala o sono dela, abraçando-a.

Percebo o sorriso de meus dois lados, do velho e do novo, unidos e nesse momento tudo flui naturalmente: as palavras surgem, a leitura é continua, as tarefas finalizadas.

É isso que eles devem dar ao nome de paz, de harmonia. Eu também sorrio e volto ao trabalho que preciso terminar, mas sou interrompido aos berros de uma criança levada, querendo assistir aquele seriado e mais um monte de ideias ao mesmo tempo.

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